segunda-feira, 30 de abril de 2007

Mediterrâneo RH (6)

Mais uma entrevista do projecto «Ágora RH» (explicação do projecto no post 1 sobre este tema). Um vizinho, o representante de Espanha…

Juan José Alvarez (Espanha)
«Os povos andam sempre à frente dos políticos.»

Juan José Alvarez, docente universitário, é membro da Associación Española de Dirección de Personal (AEDIPE). Trabalhou na Telefónica durante 25 anos, na área de recursos humanos, nomeadamente ligado à formação de quadros, tendo também nessa área participado em inúmeros projectos internacionais, nomeadamente de empresas de telecomunicações.
O Mar Mediterrâneo é mais um espaço de encontro ou uma fronteira?
Para nós, latinos, os que estamos em Espanha, em Portugal, em Itália, a emigração tão rápida como está a acontecer é um problema. A emigração é inevitável; a França teve muita emigração, a Inglaterra, muitos países. Em Espanha, e em parte em Portugal, em muito pouco tempo mudámos, deixámos de ser países que enviam emigrantes para passarmos a ser países que recebem imigrantes; ora, quando isto acontece a um ritmo tão forte traz problemas sérios. Em muito pouco tempo, chegaram a Espanha quase três milhões de pessoas. E a Espanha, pela situação económica, pode mais ou menos ir gerindo as coisas, mas as repercussões sociais, políticas e culturais são problemáticas. Um país não assimila de repente gente de outras culturas, por isso eu vejo o futuro como problemático. Isto por um lado. Por outro, a Europa, tendo a Espanha mesmo em frente de África – um pouco como acontece com Portugal –, acaba por ser o el dorado, o sonho, o desenvolvimento. E nessa medida há que ser compreensivo… Por muitas barreiras que se coloquem, o problema da emigração não se vai resolver, não é por aí.
Para que se fazem projectos como o «Ágora RH»?
Bom, há que conviver. É liquido que temos que conviver, que comunicar, que conhecer as diversas culturas. Há que dialogar, relacionar-se… Todos estes eventos, a meu ver, são importantes. Os países ribereños do Mediterrâneo, da ribera do Mediterrâneo, devem encontrar-se. Creio que este é um bom caminho para encontrar um espaço comum de diálogo, e dessa forma procurar solucionar problemas que nos afectam a todos.
Há muito mais comunicação entre as pessoas das empresas, e também das universidades de todos esses países, do que entre políticos. Por que é que isso acontece?
Os povos andam sempre à frente dos políticos. É um facto, a História nunca se moveu por decisões políticas, os políticos vão atrás. As leis só solucionam o que já dura de antes. A política tenta solucionar problemas que já estão na rua. O que afecta os povos, isso os políticos vão lá, com as leis. Neste caso, o discurso político está a mudar. Fala-se em criar um espaço novo, a partir da Cimeira de Barcelona…
Em 2010...
Pois, e isso pode querer dizer algo. Mas é necessário que os povos se conheçam, que rompam clichés, estereótipos, que falem, que se saúdem, e sem estarem à espera dos políticos. Aqui há um começo, uma base, algo que depois pode ser sancionado, aprovado no campo da política.
Neste espaço do Mediterrâneo, o nível de desenvolvimento dos países é muito diferente. Se compararmos a Europa com o Magreb… Isto poderá mudar alguma vez?
Diz-se muito, na área dos recursos humanos e da formação – e eu estou nessa área –, diz-se que a formação é a pedra de toque para qualquer sociedade. Todas as mudanças chegam pela mente; se não se muda a mentalidade, não se muda nada. As grandes mudanças são as que nascem das ideias, com as pessoas, com o conhecimento. Fala-se muito de conhecimento; é o grande instrumento de transformação social. E aqui, neste projecto, vê-se a satisfação desta gente dos países mediterrânicos…
Como encara a Espanha a presença de Portugal no espaço do Mediterrâneo? Portugal que é um país sem um metro sequer de areia que toque o Mar Mediterrâneo?
Bom, eu sou sonhador… Acredito que a Península Ibérica devia estar muito mais unida. É certo que houve problemas históricos, e depois há a língua… Que não pensem os portugueses que eu não quero aprender português. Não, é que o português é mais difícil para mim, para entender, do que o francês, muito mais. Ler até leio, e consigo ver a RTP, mas entender… O que eu acho é que as relações entre Espanha e Portugal têm de avançar. Estou convencido de que seria preciso, provavelmente, uma união. A mim tanto se me dava que o governo estivesse em Madrid ou em Lisboa. Os problemas são semelhantes. Mesmo sem união, Portugal e Espanha deviam colaborar estreitamente em todos os assuntos.

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