quarta-feira, 18 de abril de 2007

A política e a gestão

Tenho um amigo consultor que nas comunicações que faz para pessoas da administração pública costuma referir-se à diferença que existe entre gestão política e política de gestão. Sobre o assunto já o ouvi inúmeras vezes, sempre com o seu habitual tom crítico, lúcido, construtivo e virado para o futuro. E o que normalmente acontece é que as pessoas da administração pública que tomam contacto com ele costumam aprovar-lhe as opiniões. [Esse meu amigo chama-se Luís Bento e está numa entrevista ali abaixo]
Bom, para além do jogo de palavras, esta ideia do meu amigo toca em aspectos essenciais para o desenvolvimento da nossa sociedade e até para a preservação dos valores fundamentais da democracia. Uma coisa é ter objectivos firmes, por exemplo, para uma instituição, para uma autarquia ou para um país, sempre elementos que congregam interesses colectivos. Outra bem diferente é ter objectivos pessoais ou partidários, igualmente firmes, já se vê (e se calhar mais firmes do que para tudo o resto...), servindo-se da instituição, da autarquia ou do país. É aqui que reside a diferença essencial entre política de gestão e gestão política.
Ter uma política de gestão ou fazer uma gestão política é o resultado de uma opção, tomada pela formação de cada pessoa, à frente de uma instituição, de uma autarquia, de um país. Mas muitas vezes, e no caso da gestão política, não é só isso. Não se trata apenas de uma opção. A própria lógica que grassa em Portugal, de a tudo e mais alguma coisa ser necessário submeter critérios de natureza política, e não de eficácia e de eficiência, tem levado até a que muitos dos mais bem intencionados no início das suas funções acabem por aderir à tão falada gestão política. Uma gestão que acolhe de tudo um pouco, desde esses honestos vencidos pelo cansaço, ou convencidos, até manhosos, lambe-botas e vigaristas.
Pode argumentar-se que em democracia as coisas se resolvem por si, que todos os frequentadores da gestão política serão enxotados em época de eleições e de nomeações. Só que as coisas não são assim tão simples. Em teoria sim, o povo escolhe aqueles mais propensos a terem uma política de gestão do que a fazerem uma gestão política, porque é esse o interesse do povo. Mas na verdade o que acontece é que as escolhas democráticas estão invariavelmente condicionadas pela actuação dos gestores políticos, que poucas hipóteses dão aos que defendem políticas de gestão. A gestão política é isso mesmo, essa capacidade de iludir, à custa de «marquetingues», empregos, favores, ameaças explícitas ou implícitas, dinheiro ou até autocarros para carregar pessoas no dia das eleições.
Há inclusivamente quem defenda que isto, assim, só com uma ditadura. Eu, por mim, não creio que ajudasse muito. A julgar pela amostra que tivemos durante quase meio século, a esses o que posso dizer é que antes preferia que o destino nos guardasse para sempre no lodaçal da gestão política que agora conhecemos. Para pior, e bem pior, que ficasse assim. Até porque na ditadura, mesmo com um ditador que tinha a mania de que era sério (pobre e sem sequer suspeitar da existência de uma palavra chamada democracia, mas sério...), não se fazia outra coisa a não ser gestão política. À antiga, é claro, com pides e tudo.

1 comentário:

Anónimo disse...

opiniões são banais quando o ser humano desconhece seus valores
significativos, tudo se perde. É
preciso encontrar-se para implementar ações que possam trazer
equilibrio e felicidade a todos e
para todos em um MUNDO mais igualitário e real, pois este, não
pode ser apenas considerado uma fantasia , onde representantes age sem medidas.Precisamos ter consciência de que nossas ações ,gera reação boa ou ruim,isso faz a diferença seja em qualquer democracaia política administrativa.