Escrevia em tempos um colunista do «Expresso» (António Pinto Leite) que «os portugueses, no seu todo, não têm interiorizado que a produtividade é a primeira forma de solidariedade». E logo a seguir acrescentava… «Porque o que um faz, o outro não terá de fazer, porque se todos forem produtivos poderão ter vidas mais razoáveis, porque a produtividade leva à riqueza e a riqueza distribuída leva à justiça social, porque a produtividade de cada um é condição de sobrevivência do conjunto.»
A sobrevivência do conjunto… Mas será que o conjunto está assim tão preocupado com a produtividade? Será que sabe o que significa a produtividade? Como se mede? Que implicações tem na vida do dia-a-dia?
Conceitos à parte, há uma coisa que o conjunto sabe, todos, sem excepção: a vida não será melhor continuando com a sucessão de desgraças dos últimos anos. Sucessão que tende a colocar-nos numa posição cada vez pior, agora que estamos plenamente integrados num espaço onde a competitividade não se compadece com as dificuldades invocadas pelos menos preparados. E em Portugal, o défice de preparação é inegável, para nos confrontarmos com a maior parte dos parceiros europeus.
Se o desafio fosse trabalhar mais, ou antes, com mais qualidade, provavelmente até o venceríamos. Mas como justificar a um agricultor que mesmo trabalhando melhor na sua exploração acaba por não conseguir escoar os seus produtos? Como explicar a um funcionário público que se trabalhar melhor, provavelmente apenas estará a criar mais redundâncias, a alimentar a máquina burocrática que se foi desenvolvendo ano após ano e que vive para ela própria?
Mas se a solução básica de pôr as pessoas a trabalhar melhor (com mais qualidade) não levará a resolver a questão da produtividade, o que levará? Há três ou quatro anos, um estudo que mostrava os gestores portugueses vistos pelos seus colegas estrangeiros deitava alguma luz sobre isto: os resultados não eram nada simpáticos para os gestores portugueses. Descontando o facto de terem como base a opinião de outros («... eu vejo no mundo escolhos / onde outros com outros olhos / não vêm escolhos nenhuns / …», para lembrar um excerto de um poema de António Gedeão), os resultados apontavam claramente para a ideia de que não será pelos gestores que Portugal vencerá o desafio da produtividade.
Mas e se o problema da gestão fosse resolvido? Se os nossos gestores fossem capazes de, pelo lado deles, resolver o problema? Se isso fosse possível? O que faria Portugal com bons gestores, até com trabalhadores dispostos a – e capazes de – trabalhar com mais qualidade? O que faria Portugal com isto, sabendo-se como é o enquadramento disponibilizado pelo próprio Estado? A nível de infra-estruturas (rodoviárias, a melhorarem; ferroviárias, um desastre; portuárias e fluviais, outro desastre; aeroportuárias, ou melhor, «otárias», é melhor nem falar no caso)… A nível da formação, onde não existe uma linha de pensamento clara e onde quem manda para o ar banalidades atrás de banalidades sobre o «desafio da qualificação» vai-se a ver e acabou o curso, para não dizer pior, às três pancadas… A nível fiscal, onde os adjectivos a empregar serão, porventura, para não faltar à verdade, impublicáveis?
Um pouco na linha do exemplo anterior, com trabalhadores disponíveis e com capacidade para trabalhar com qualidade, com gestores capazes efectivamente de gerir da melhor forma (sem estarem constantemente a pensar nos telemóveis, nos carros e no resto das regalias), o que fazer no meio de todo o imbróglio que envolve o sistema produtivo, não permitindo efectivas condições para que haja produtividade e competitividade? O que fazer perante sucessivos governos de gente apenas auto-desenrascada, governos que continuam sem resolver o problema do ensino e da sua adequação à vida real, sem resolver a questão fiscal, permitindo que continue no nosso país a prevalecer uma situação de mentira, sem resolver o problema das infra-estruturas?
A política nunca foi grande amiga da economia e, no caso português, isso é uma verdade nua e crua. Mais grave ainda, quando são os próprios políticos a trazer constantemente para o debate a questão da produtividade. Produtividade e mais produtividade, e depois a competitividade, sem que seja possível sair de um ciclo vicioso. E eles, produzem o quê? Que diferença para o discurso de quem vê as coisas em concreto, de quem se confronta com os verdadeiros problemas… Há quem diga que o melhor, se calhar, ainda é fazer vida de político; e aproveitar uns amigalhaços para vencer o tal «desafio da qualificação» – a própria, já se vê, enviando um cartão e uma folha A4 com umas tretas em inglês. Mas eu acho que não.
A sobrevivência do conjunto… Mas será que o conjunto está assim tão preocupado com a produtividade? Será que sabe o que significa a produtividade? Como se mede? Que implicações tem na vida do dia-a-dia?
Conceitos à parte, há uma coisa que o conjunto sabe, todos, sem excepção: a vida não será melhor continuando com a sucessão de desgraças dos últimos anos. Sucessão que tende a colocar-nos numa posição cada vez pior, agora que estamos plenamente integrados num espaço onde a competitividade não se compadece com as dificuldades invocadas pelos menos preparados. E em Portugal, o défice de preparação é inegável, para nos confrontarmos com a maior parte dos parceiros europeus.
Se o desafio fosse trabalhar mais, ou antes, com mais qualidade, provavelmente até o venceríamos. Mas como justificar a um agricultor que mesmo trabalhando melhor na sua exploração acaba por não conseguir escoar os seus produtos? Como explicar a um funcionário público que se trabalhar melhor, provavelmente apenas estará a criar mais redundâncias, a alimentar a máquina burocrática que se foi desenvolvendo ano após ano e que vive para ela própria?
Mas se a solução básica de pôr as pessoas a trabalhar melhor (com mais qualidade) não levará a resolver a questão da produtividade, o que levará? Há três ou quatro anos, um estudo que mostrava os gestores portugueses vistos pelos seus colegas estrangeiros deitava alguma luz sobre isto: os resultados não eram nada simpáticos para os gestores portugueses. Descontando o facto de terem como base a opinião de outros («... eu vejo no mundo escolhos / onde outros com outros olhos / não vêm escolhos nenhuns / …», para lembrar um excerto de um poema de António Gedeão), os resultados apontavam claramente para a ideia de que não será pelos gestores que Portugal vencerá o desafio da produtividade.
Mas e se o problema da gestão fosse resolvido? Se os nossos gestores fossem capazes de, pelo lado deles, resolver o problema? Se isso fosse possível? O que faria Portugal com bons gestores, até com trabalhadores dispostos a – e capazes de – trabalhar com mais qualidade? O que faria Portugal com isto, sabendo-se como é o enquadramento disponibilizado pelo próprio Estado? A nível de infra-estruturas (rodoviárias, a melhorarem; ferroviárias, um desastre; portuárias e fluviais, outro desastre; aeroportuárias, ou melhor, «otárias», é melhor nem falar no caso)… A nível da formação, onde não existe uma linha de pensamento clara e onde quem manda para o ar banalidades atrás de banalidades sobre o «desafio da qualificação» vai-se a ver e acabou o curso, para não dizer pior, às três pancadas… A nível fiscal, onde os adjectivos a empregar serão, porventura, para não faltar à verdade, impublicáveis?
Um pouco na linha do exemplo anterior, com trabalhadores disponíveis e com capacidade para trabalhar com qualidade, com gestores capazes efectivamente de gerir da melhor forma (sem estarem constantemente a pensar nos telemóveis, nos carros e no resto das regalias), o que fazer no meio de todo o imbróglio que envolve o sistema produtivo, não permitindo efectivas condições para que haja produtividade e competitividade? O que fazer perante sucessivos governos de gente apenas auto-desenrascada, governos que continuam sem resolver o problema do ensino e da sua adequação à vida real, sem resolver a questão fiscal, permitindo que continue no nosso país a prevalecer uma situação de mentira, sem resolver o problema das infra-estruturas?
A política nunca foi grande amiga da economia e, no caso português, isso é uma verdade nua e crua. Mais grave ainda, quando são os próprios políticos a trazer constantemente para o debate a questão da produtividade. Produtividade e mais produtividade, e depois a competitividade, sem que seja possível sair de um ciclo vicioso. E eles, produzem o quê? Que diferença para o discurso de quem vê as coisas em concreto, de quem se confronta com os verdadeiros problemas… Há quem diga que o melhor, se calhar, ainda é fazer vida de político; e aproveitar uns amigalhaços para vencer o tal «desafio da qualificação» – a própria, já se vê, enviando um cartão e uma folha A4 com umas tretas em inglês. Mas eu acho que não.
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