É a revista «Pessoal» de Abril, o número 56. Na capa aparece um antigo gestor que agora é consultor – Pedro Norton de Matos. Deixo aqui o meu editorial.
O campo da utopia
Sempre me pareceu que o mundo das empresas, e especialmente aquela parte que diz respeito à gestão das pessoas, é feito de frases bonitas. Frases que poderiam ter um grande mérito, obviamente, porque ao facto de lhes chamarmos «bonitas» deveriam estar associadas ideias bem positivas, ideias bonitas, se quisermos, ideias capazes de nos fazerem acreditar que o mundo das empresas é um mundo digno, justo e capaz de ensinar muitas coisas a outros mundos. Só que as frases bonitas escondem tantas vezes realidades que estão longe de ser bonitas… Há frases dessas que não passam de mentiras tão descaradas que conseguem vencer barreiras que se esperaria serem inultrapassáveis, como as da própria consciência de quem as profere ou de quem as escreve, seja em folhas de papel, seja num ecrã de computador, seja em cartazes que vai distribuindo pelas paredes de uma empresa.
Nesta revista certamente que já terão surgido frases dessas. Entre os incontáveis trabalhos que temos vindo a publicar seria impossível que isso não acontecesse. Não sei a que número terão chegado até agora, nem isso me parece importante. Aquilo que quero aqui testemunhar é a satisfação com que na edição dos textos, a cada número da revista, vou descobrindo outras frases, que sei que são bem diferentes, também bonitas, mas de uma beleza que me parece transportar consigo o toque único da verdade. Acho que aconteceu assim em todos os números. E neste, para cumprir aquilo que me parece uma tradição, uma boa tradição, neste também aconteceu. Frases que me encheram de satisfação. Ao editá-las, sabendo que muitas pessoas poderão lê-las. Podia deixar aqui mais, mas fico-me apenas pelas dos dois parágrafos seguintes, frases de dois excertos que fui roubar às páginas que vão daqui até ao final.
Um é da entrevista com Pedro Norton de Matos, a figura que resolvemos puxar para a capa e que a certa altura fala de uma profunda mudança que aconteceu na sua vida… «Vivi os últimos 20 anos na primeira linha de dois sectores reconhecidamente muito dinâmicos, e refiro-me às tecnologias da informação e às telecomunicações, que também ao longo desses 20 anos se foram fundindo e hoje se chamam TIC, tecnologias de informação e comunicação. Tive o privilégio de ter vivido na primeira linha desse período muito rico, mas também há a factura do desgaste; é uma área particularmente desgastante e exigente. O que a mudança me trouxe foi uma coisa muito interessante: poder tirar da gaveta os sonhos. Tive oportunidade, querendo manter-me muito activo, tive o privilégio de escolher. Felizmente, sou uma pessoa de muitos interesses e tive o privilégio de decantar esses interesses e escolher os sonhos a tirar da gaveta e dizer o que mais gostava de fazer.»
O outro excerto é de uma crónica, bem lá do final. A habitual crónica da Ana, desta vez partindo de um livro que acaba de sair e que se chama «O Poder das Mulheres»; a certa altura ela escreve… «John Naisbitt disse que o século XXI vai ser das mulheres. Há quem acredite que se existissem mais mulheres em cargos de decisão o mundo seria melhor. Eu não sei. Mas sei que deviam pelo menos ter as mesmas oportunidades de errar. E sei que se em vez de medir forças se criassem condições para que todo o potencial das pessoas, independentemente de serem homem ou mulher, fosse posto ao serviço da sociedade, aí sim, conseguia-se evoluir.»
Escreve a Ana, logo a seguir, que «uma realidade assim permanece no campo da utopia». Talvez permaneça. Mas é lá, a esse campo sem fim, que vamos buscar muito daquilo de que precisamos para ser felizes, e para ajudar os outros a sê-lo também. O que seria de nós se esse campo não existisse?
1 comentário:
A este post tenho mesmo de comentar no que diz respeito especialmente às Mulheres. A verdade é que na faculdade somos melhores e mais. Somos capazes de tomar e fazer um “cem” número de coisas ao mesmo tempo no entanto falta-nos a capacidade de liderança e de decisão porquê? Porque infelizmente ainda crescemos num meio em que o homem impera e decide e nós deixamos. Em que o mínimo erro ou deslize fica marcado eternamente e não nos deixamos margens. Nós não podemos errar. Temos de ir à luta e não desistir. Nós é que não nos damos as oportunidades. É claro que para nós o caminho é mais duro e cruel mas conseguimos e só assim um dia conseguiremos que no futuro estas diferenças não existam.
A revista ainda não a recebi mas quando receber é como sempre de leitura obrigatória :)
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