As coisas pela positiva
Este título é roubado. Roubei-o a mim próprio, de um dos habituais posts que coloco num dos meus blogs. Aí, costumo escrever uma pequena nota depois de cada jogo do Sporting. Há pouco tempo, a seguir à vitória em casa do Porto, o título do meu post era este, e no post propriamente dito desenvolvia a ideia, esquecendo as embirrações com dois ou três jogadores da equipa que considero bastante maus. A vitória (no momento em que escrevo não se sabe nada, com o Sporting de visita ao Benfica e a quatro pontos do Porto) pode não ter valido de muito, mas eu na altura preferi pensar que poderia valer tudo, até o campeonato. E ver as coisas pela positiva.
Não cheguei a essa conclusão naquele momento, depois do fantástico pontapé que deixou os jogadores do Porto presumo que sem saberem bem o que dizer. Claro que não foi isso. Mas esse momento juntou-se a muitos outros que me têm feito pensar em dar importância às coisas boas, muita importância, pondo as más de lado sempre que possível.
Uma vez, num artigo – e creio que aqui já referi o caso – contei algo que me aconteceu no primeiro emprego após ter acabado o curso. Foi num banco. Fui atropelado junto à porta da sede, quando numa manhã ia a entrar, e os bombeiros levaram-me inconsciente para o hospital; a minha família vivia longe e no posto da polícia da zona não havia possibilidade de fazer chamadas interurbanas (e os telemóveis estavam apenas a aparecer). A custo, um dos agentes conseguiu que do departamento de recursos humanos fizessem a chamada; foi a única colaboração que tive do banco. Acabei por recuperar ao fim de 15 dias. Voltei ao banco para dizer que não queria lá continuar.
Uma amiga, comentando o artigo, contou um caso que ia quase dar ao mesmo. Escreveu assim... «Aconteceu-me algo parecido num banco onde trabalhei. No fim de um extenuante dia de trabalho – em ‘stress’ provocado por uma decisão incorrecta da chefe do departamento e com prazos para o Banco de Portugal, que já tinha avisado que iria impor coimas à instituição se não reportássemos naquele dia, por volta da meia-noite, sem ter jantado, tive o primeiro episódio de desmaio da minha vida. Perante isto, uns colegas ajudaram-me e trouxeram-me um iogurte perdido no frigorífico para me reanimar e a chefe perguntou se eu já estava melhor. De seguida continuei a trabalhar até à uma da manhã. Ninguém se ofereceu para me levar a casa, ninguém me mandou imediatamente para casa, e foi pelas minhas próprias pernas que o fiz, apanhando um táxi que ninguém me pagou. No outro dia lá estava de novo às nove da manhã. A partir desse dia, enviei currículos e auto-propostas como uma maluca e jurei a mim mesma que nunca mais trabalharia numa instituição onde houvesse tão pouco respeito pelo género humano. Em pouco tempo estava a trabalhar noutro lado.»
A minha ideia sobre o mundo das empresas sempre foi mais para casos como estes dois. Mas ultimamente tenho procurado ver as coisas pela positiva. Tanto que já dou comigo a pensar que as excepções não são as coisas boas mas os casos de instituições idiotas e de gente atrasada como os dois bancos atrás referidos. Penso que há empresas onde verdadeiramente se pode dizer que é bom trabalhar. Talvez por isso tenha trazido essa ideia para o dossier que ocupa boa parte da presente edição. A de que há boas empresas para se trabalhar. Uma ideia que, curiosamente, fica bem ao lado das que defende Rui Marques, o alto-comissário para a Imigração e Minorias Étnicas, numa longa entrevista. É com ele que fazemos a capa.
1 comentário:
Gostei tanto que lhe escrevi um mail para o sapo
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