Alioune Faye (Senegal)
«Um pouco de calor em casa pode ser a felicidade.»
Alioune Faye, secretário-geral da Associação Nacional de Directores e Chefes de Pessoal (ANDCP) do Senegal, é também vice-presidente da Federação Africana de Recursos Humanos (AFDIP). Trabalhou numa empresa durante 15 anos, tendo saído em finais de 2005 para, como diz, «alargar horizontes»; dedicou-se à formação, acabando por criar um centro de desenvolvimento profissional onde organiza acções de formação, sobretudo ligadas a gestão de recursos humanos, e através do qual acompanha boa parte do que se faz nesta área no Senegal.
O senhor é vice-presidente da Federação Africana de Recursos Humanos, a AFDIP…
Sim, exactamente. O Senegal é um dos membros fundadores dessa federação, uma federação de formadores e directores de pessoal; fundámo-la com Marrocos, a Tunísia e a Costa do Marfim. Eu sou vice-presidente. A presidência é rotativa; actualmente é a Tunísia que preside, na pessoa da senhora Zeyneb Attya Mahjoub. Ela organizou a terceira edição das «Jornadas Africanas de Recursos Humanos», e agora é o Senegal a organizar a quarta edição [já se realizou entretanto]; nessa altura, a presidência passará para um senegalês.
Não têm contacto com os países africanos de expressão portuguesa?
Ainda não houve contactos. Mas gostaríamos que houvesse proximidade em relação a Cabo Verde, Guiné-Bissau…
E em relação a Angola e Moçambique?
Bem, existia o problema da guerra, e além disso estão mais longe da nossa zona de influência. Gostaríamos que viessem ter connosco, mas não sabemos se eles vão trabalhar mais com a África do Sul.
Que ligação é que o Senegal tem com o Mediterrâneo?
Há pontos de vista comuns em matéria de recursos humanos. Eu estudei no sistema francês, devido à presença francesa no Senegal. Tivemos a independência em 1960. A minha forma de pensar, os meus comportamentos, tudo é francês. Como acontece, por exemplo com os argelinos, apesar da guerra de libertação. Esta é, se quiser, uma aproximação. Um segundo aspecto tem a ver com o facto de partilharmos muitas coisas coma a religião, o facto de certos países mediterrânicos pertencerem a África e serem nosso vizinhos; há como que uma ponte entre a África sub-sahariana e o Mediterrâneo. Fui convidado para colaborar com o projecto para dar um ponto de vista africano; pode ser que no futuro até possamos, os senegaleses, participar mais activamente.
O que pensa das barreiras que existem no Mediterrâneo em relação às pessoas? Ou antes, o que pensa do facto de ser possível passar da Europa para África e não o contrário?
Isso faz com que seja necessário criar um mundo um pouco mais equilibrado, onde a riqueza seja partilhada de forma justa, onde não haja lugar para a pobreza… Uma pobreza que é rejeitada pelos ricos, que é a realidade de hoje, porque os países ricos não querem a população dos países pobres, e não têm dúvidas acera disso. É algo que temos de rever, para que haja uma nova atitude, uma nova posição, e seja regulado este problema económico.
Mesmo a Europa sendo composta maioritariamente por países ricos, vê alguma diferença na atitude que tem em relação aos pobres, comparando com os Estados Unidos?
Os comportamentos são os mesmos; há uma fronteira e não se pode entrar. Nos Estados Unidos se se entra é-se perseguido, na Europa a mesma coisa. Mas é preciso dizer que a atitude dos Estados Unidos em relação aos países emergente, pobres, ainda revela muitos tiques de imperialismo.
Que a Europa não mostra?
Sim, a Europa gere o seu espaço, criou um espaço para se construir, para conseguir fazer face aos Estado Unidos; eles têm mais meia centena de estados, aquilo é imenso, por isso é preciso outro espaço assim grande, poderoso em termos económicos, industriais e sociais, para fazer face aos Estados Unidos. A verdade é que hoje os países africanos são bem acolhidos pela China…
Então, destaca três grandes espaços, Estados Unidos, Europa e China, ou melhor, o oriente?
Exactamente.
Qual é o papel do oriente?
Olhe, actualmente, em Dakar, temos a ‘chinatown’. Os chineses estão a sair. A mundialização já não tem fronteiras.
E o que é que África pode fazer em tempos de mundialização, a que também chamam globalização?
Em África não há produção industrial. É tudo importado. E como os chineses fazem produtos a baixo preço, embora a qualidade por vezes seja baixa, há outro nível de desenvolvimento, e as pessoas ficam satisfeitas com isso. É a felicidade de ter uma casa com ecrãs gigantes nos quartos, com tudo o que há de novas tecnologias, num pequeno bairro, com vista agradável. Bom, a felicidade é muito relativa. Não é preciso ter grandes coisas para ser feliz, um pouco de calor em casa pode ser a felicidade.
Qual é o futuro de África? A África sub-sahariana…
A África negra?
Sim.
O continente é muito rico. As novas gerações devem mostrar que África será um continente com futuro; conquistando mercados, impondo as suas matérias-primas, porque hoje há défice nas trocas. Mas é preciso que tenhamos um pouco mais de visibilidade, de apoio, para corrigir este desequilíbrio em termos das trocas. Nessa altura as coisas estarão bem, porque África é rica, do ponto de vista do subsolo, e socialmente também.
E que opinião tem sobre os políticos africanos?
Tem havido uma evolução. Os de hoje já não são como os da década de 1960. Porque a democracia vai-se instalando pouco a pouco, nalguns casos de forma duradoura. No Senegal, tivemos uma transição pacífica. O Benin também teve. Cada vez mais os países africanos estão em vias de ter uma nova visão da democracia. Comportam-se melhor a esse nível. E no plano dos direitos humanos a mesma coisa. Acredito que África se distinguirá. Sem guerras tribais, de secessão.
Sabe que nos países de expressão portuguesa há muita corrupção? No caso de Angola é endémica, com o povo pobre e os políticos ricos.
Se for ao Senegal verá que não há riqueza a partilhar… O problema é que onde há petróleo e diamantes há conflitos, uns internos e outros que vêm do exterior, do imperialismo. Connosco não há esse problema; é verdade que os políticos vão enriquecendo, mas enfim, não há muita riqueza para partilhar, o que há mais para partilhar é pobreza. Mas nos países com muitos recursos naturais é lamentável que aconteça tanta corrupção.
Concluo que está satisfeito com os seus políticos…
Isso aí depende sempre do lado em que se está. Há os governantes e os opositores. Uns a dizerem uma coisa, outros a dizerem outra.
Mas, em geral, os políticos do seu país são gente séria?
É difícil dizer se o governo é sério ou não.
Há corrupção?
Bom. Corrupção há em todo o mundo.
A comunicação social é livre?
A comunicação social é extremamente livre no Senegal, a de cariz político, a de cariz económico, etc.
Os jornais, por exemplo?
Sim, tudo. Não temos problemas a esse nível no Senegal. O que falta é um pouco de formação, de partilha de informação; precisamos de comunicar melhor, para que todos tenhamos o mesmo valor. É algo para fazer de uma forma suave, lentamente, par que possa dar frutos.
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