Número 61 da revista «Pessoal» – edição de Setembro. Na capa, quatro figuras de uma conferência europeia sobre e-learning que Lisboa vai acolher em meados de Outubro: Etelberto Costa, Roberto Carneiro, Carlos Zorrinho e Marc Rosenberg. Deixo a seguir o meu editorial.
Tudo tão relativo
Aqui, neste espaço, era para falar essencialmente de e-learning. É o tema do dossier da edição de Setembro da «Pessoal», tema que surge em virtude de Lisboa acolher em Outubro uma conferência europeia em que o e-learning estará em discussão. Surge essa conferência no âmbito da presidência portuguesa da União Europeia, de que tanto se falou mas de que ultimamente pouco se tem falado, talvez por essa mesma presidência ser ocupada em boa parte pelo período do Verão, com gente sempre a partir e a chegar de férias. E depois, isso de andar com uma presidência rotativa entre os diversos países, que na volta mais cedo ou mais tarde acabará, até nem dá para grandes cometimentos. Seis meses. Passa enquanto o diabo, se calhar um pobre diabo, se mete a esfregar um olho. Ia ocupar à maluca o primeiro-ministro, inundá-lo num stress classificado sempre como terrível ou coisa pior. Nunca acreditei muito nisso. Lá para Janeiro ou Fevereiro a vida do país deverá andar pelas normalidades internas e sempre tão pequeninas, e da presidência europeia hão-de ficar as recordações – espera-se que boas – de duas ou três coisas. Creio que pouco mais.
Era então para falar essencialmente de e-learning aqui. Mas deixo apenas uma nota, um convite para as páginas do dossier, onde o tema é desenvolvido principalmente em entrevistas que fizemos a dois especialistas, um português, com responsabilidades na organização da referida conferência, e um norte-americano, que será um dos principais oradores.
O resto deste espaço, onde costumo apresentar alguns assuntos da edição – na qual recomendo que conheçam o perfil de um executivo da Mercer em Portugal e também o olhar de uma das nossas jovens colaboradoras sobre Berlim, a que chama «a metrópole da cicatriz de pedra» –, o resto do espaço deixo-o para um texto que editei já sobre o fecho. A habitual crónica da Ana, desta vez sobre os seus amigos, todos com menos de 30 anos, e qualificados, muito qualificados, sem diplomas vagos, sem avaliações por fax, incapazes, tenho a certeza, de andarem a apregoar generalidades e redundâncias sobre a importância das qualificações e mais não sei quantos desafios. Esses jovens, escreve a Ana, vêem-se obrigados a procurar outros países… «Estados-Unidos, Alemanha, Noruega, Escócia com extensão ao Sri Lanka, são outras novas moradas escolhidas. Têm todas em comum oferecer condições a nível profissional muito dificilmente conseguidas em Portugal, com a idade e a experiência que consta no curriculum. Mesmo esquecendo o ordenado, as oportunidades oferecidas, as perspectivas de progressão na carreira e de aprendizagem são totalmente distintas das que os recém-licenciados ou com pouca experiência habitualmente encontram em Portugal, onde muitas vezes são vistos como mão-de-obra qualificada e barata.»
É o país ainda e sempre relativo, o país que trata assim os seus jovens mas que até foi capaz de reformar ministros velhíssimos de meia idade com muitos milhares de euros por mês só por terem estado nem meia-dúzia de anos a marcar lugar, por exemplo, no Banco de Portugal. «País onde qualquer palerma diz,/ a afastar do busílis o nariz:/ – Não, não é para mim este país!» Não sei se Alexandre O’Neill faria os versos assim se pudesse ver as coisas agora. Se pudesse ver que não é «qualquer palerma» que se põe a dizer que o país não lhe serve. São os jovens, e nem o dizem, apenas partem, sem comentários. Os «palermas», e não são uns «palermas quaisquer», esses agora ficam todos por cá. O país serve-lhes, e serve-os bem, e mesmo que lhes apareça algum busílis, o tempo – sobre o qual sempre poderão dizer nalguma entrevista que é um grande escultor, referindo depois a senhora Yourcenar apanhada à pressa nalgum livro de citações –, o tempo tudo se encarregará de solucionar.
Aqui, neste espaço, era para falar essencialmente de e-learning. É o tema do dossier da edição de Setembro da «Pessoal», tema que surge em virtude de Lisboa acolher em Outubro uma conferência europeia em que o e-learning estará em discussão. Surge essa conferência no âmbito da presidência portuguesa da União Europeia, de que tanto se falou mas de que ultimamente pouco se tem falado, talvez por essa mesma presidência ser ocupada em boa parte pelo período do Verão, com gente sempre a partir e a chegar de férias. E depois, isso de andar com uma presidência rotativa entre os diversos países, que na volta mais cedo ou mais tarde acabará, até nem dá para grandes cometimentos. Seis meses. Passa enquanto o diabo, se calhar um pobre diabo, se mete a esfregar um olho. Ia ocupar à maluca o primeiro-ministro, inundá-lo num stress classificado sempre como terrível ou coisa pior. Nunca acreditei muito nisso. Lá para Janeiro ou Fevereiro a vida do país deverá andar pelas normalidades internas e sempre tão pequeninas, e da presidência europeia hão-de ficar as recordações – espera-se que boas – de duas ou três coisas. Creio que pouco mais.
Era então para falar essencialmente de e-learning aqui. Mas deixo apenas uma nota, um convite para as páginas do dossier, onde o tema é desenvolvido principalmente em entrevistas que fizemos a dois especialistas, um português, com responsabilidades na organização da referida conferência, e um norte-americano, que será um dos principais oradores.
O resto deste espaço, onde costumo apresentar alguns assuntos da edição – na qual recomendo que conheçam o perfil de um executivo da Mercer em Portugal e também o olhar de uma das nossas jovens colaboradoras sobre Berlim, a que chama «a metrópole da cicatriz de pedra» –, o resto do espaço deixo-o para um texto que editei já sobre o fecho. A habitual crónica da Ana, desta vez sobre os seus amigos, todos com menos de 30 anos, e qualificados, muito qualificados, sem diplomas vagos, sem avaliações por fax, incapazes, tenho a certeza, de andarem a apregoar generalidades e redundâncias sobre a importância das qualificações e mais não sei quantos desafios. Esses jovens, escreve a Ana, vêem-se obrigados a procurar outros países… «Estados-Unidos, Alemanha, Noruega, Escócia com extensão ao Sri Lanka, são outras novas moradas escolhidas. Têm todas em comum oferecer condições a nível profissional muito dificilmente conseguidas em Portugal, com a idade e a experiência que consta no curriculum. Mesmo esquecendo o ordenado, as oportunidades oferecidas, as perspectivas de progressão na carreira e de aprendizagem são totalmente distintas das que os recém-licenciados ou com pouca experiência habitualmente encontram em Portugal, onde muitas vezes são vistos como mão-de-obra qualificada e barata.»
É o país ainda e sempre relativo, o país que trata assim os seus jovens mas que até foi capaz de reformar ministros velhíssimos de meia idade com muitos milhares de euros por mês só por terem estado nem meia-dúzia de anos a marcar lugar, por exemplo, no Banco de Portugal. «País onde qualquer palerma diz,/ a afastar do busílis o nariz:/ – Não, não é para mim este país!» Não sei se Alexandre O’Neill faria os versos assim se pudesse ver as coisas agora. Se pudesse ver que não é «qualquer palerma» que se põe a dizer que o país não lhe serve. São os jovens, e nem o dizem, apenas partem, sem comentários. Os «palermas», e não são uns «palermas quaisquer», esses agora ficam todos por cá. O país serve-lhes, e serve-os bem, e mesmo que lhes apareça algum busílis, o tempo – sobre o qual sempre poderão dizer nalguma entrevista que é um grande escultor, referindo depois a senhora Yourcenar apanhada à pressa nalgum livro de citações –, o tempo tudo se encarregará de solucionar.
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