Mais um pouco do projecto «Ágora RH» (explicação do projecto no post 1 sobre este tema); a pequena entrevista com o representante de Marrocos.
Nouredine Knouzi (Marrocos)
«As fronteiras reais existem.»
Nouredine Knouzi dá aulas na Universidade Hassan II Mohammedia, instituição onde também é responsável pela formação contínua. É presidente de um dos vários núcleos da Association Nationale des Gestionnaires et Formateurs des Ressources Humaines (AGEF), de Marrocos.
Qual é a sua opinião sobre o «Projecto Ágora RH»?
Eu gostaria que esta iniciativa fosse anual, porque há muito trabalho a fazer e devemos conhecer o mais possível da realidade de outros países, em termos de gestão das empresas. A minha ideia é a de que todas a sociedades mediterrânicas vivem problemas semelhantes, e a solução desses problemas não se encontra no quadro de um país. Esta iniciativa é excelente.
Neste espaço que é comum, ao mesmo tempo há uma fronteira, um muro…
É verdade, a fronteira política existe, mas o mundo do trabalho, das tecnologias, impõe que essas fronteiras sejam abertas.
O problema são os políticos?
As fronteiras reais existem, mas apelamos à sua abertura, no sentido da livre troca da mão-de-obra, e o mesmo ao nível dos mercados. Há uma mutação enorme no mundo, há a ideia de que as fronteiras mudam o problema da emigração, o papel dos países europeus…
As pessoas de África não podem vir para a Europa, mas os europeus podem ir para África...
É a História. Para fazer uma empresa é preciso ter meios, experiência, uma visão clara. É o problema de procurar um mercado novo, e o mercado novo sem aqueles suportes torna-se impossível. É preciso uma maior partilha. Há três ou quatro empresas marroquinas que estão no Senegal, como as europeias estão no norte de África; essas empresas marroquinas são de serviços, concretamente da banca, de grande distribuição e do sector do ensino. Os mais desenvolvidos devem contribuir, ajudar os menos desenvolvidos, cada um à sua escala.
O que é que pensa da realidade da gestão das pessoas nas organizações marroquinas?
Há claramente dois modos de gestão. Um modo no sentido internacional, olhando para o mercado, com as multinacionais, com grupos importantes; é uma gestão moderna. Depois há outra realidade, as das pequenas empresas, que ainda não estão mobilizadas para a outra visão. É a realidade, elas estão praticamente desligadas destas questões. A AGEF tem procurado fazer acções de sensibilização, no sentido de mostrar as vantagens da formação, de ter uma gestão racional, de procurar compreender o mercado, de estudar a concorrência.
O senhor está na universidade. Como é em Marrocos a colaboração entre empresas e universidades?
Eu vi como isso se passava em França na década de 1980; a minha tese foi sobre o tema. Em Marrocos passa-se um pouco o que então aconteceu em França. As empresas não sentiam que precisavam das universidades, ficavam-se pela sua própria investigação. Depois começaram a ser obrigadas a procurar as universidades. Porque tudo está constantemente em mudança, porque é preciso vender mais para vender mais, exige-se maior competitividade. Em Marrocos as coisas aconteceram da mesma maneira, só que com um atraso de alguns anos. As empresas devem ter confiança nas universidades. Aí, por vezes, também existem barreiras, cada um fica do seu lado.
As empresas marroquinas têm a liberdade de empreender? O próprio Estado, o governo, não coloca obstáculos?
Cada sociedade tem a sua maneira de trabalhar. Tem havido mudanças enormes. Existe vontade política em Marrocos, há um compromisso real para a abertura ao exterior. Há vontade política. Foram criados organismos públicos para ajudar as empresas marroquinas a renovar-se. O Estado encoraja as empresas a fazerem formação, disponibiliza dinheiro para isso. O problema em Marrocos é que há pequenas empresas que não sabem bem o que fazer.
Sem comentários:
Enviar um comentário