As mulheres, as empresas, a política
No mês que tem o Dia Internacional da Mulher, decidimos dar destaque na «Pessoal» a mulheres que desempenham em diversas empresas cargos de direcção de recursos humanos. O habitual dossier da edição tem por isso seis mulheres, seis directoras de recursos humanos, em entrevistas sobre o seu papel nas respectivas empresas, mas também sobre a situação das mulheres em geral no mercado de trabalho; para além de um caso, o da Microsoft, no seguimento da distinção que obteve em Portugal, a de melhor empresa para as mulheres trabalharem.
As entrevistas têm respostas que acabam por ser bem diferentes umas das outras, mas por vezes nota-se uma certa unanimidade, sobretudo na análise que é feita sobre a gestão no caso de ter homens como protagonistas ou no caso de ter mulheres. Deixo três exemplos…
Primeiro – «É possível falar numa gestão no feminino. O sucesso desta gestão começou quando a mulher assumiu que para ter sucesso e ocupar funções de topo numa organização não precisava de imitar o estilo masculino. Ao contrário, o segredo do sucesso da gestão no feminino está exactamente no momento em que a mulher passa a utilizar, na sua plenitude e sem preconceitos, habilidades que são reconhecidas ao género feminino, como a maior versatilidade, a famosa capacidade de desenvolver diferentes tarefas em simultâneo, a visão global, a facilidade no relacionamento com outras pessoas, a facilidade com que delega tarefas, não esquecendo a tão falada sensibilidade feminina.» [Idália Batalha]
Segundo – «As mulheres são menos autoritárias, mais assertivas e mais participativas. São mais emocionais. Uma mulher que consiga conjugar a sua inteligência com as suas emoções consegue normalmente melhores resultados enquanto líder.» [Isabel Heitor]
Terceiro – «A mulher é mais sensível e emotiva, contrariamente ao homem, que por natureza é mais racional e objectivo.» [Ana Barata]
Mas a opinião que mais me surpreendeu foi uma que resultou de duas perguntas; estas: «O facto de termos poucas mulheres na política acaba por ter reflexo na menor presença de mulheres nas empresas, especialmente em cargos de direcção? Ou a política simplesmente não atrai as mulheres por ser uma actividade cada vez mais mal conotada?» Perguntas para Isabel Moisés, que respondeu assim: «A política pode não atrair as mulheres porque o desgaste e a entrega pessoal necessários são ainda maiores do que na vida empresarial, sendo que nesta há maior recompensa e menos exposição aos vícios ou virtudes privados. Por outro lado, na maior parte das empresas os critérios de competência acabam sempre por vencer, enquanto que na política há uma complexidade de factores que orientam e determinam quem está na mó de cima e quem está na mó de baixo, os factores são muito mais intensos e variados, e a relação entre esforço e resultado é mais indirecta, demorada e nem sempre compensadora.»
Pareceu-me que de uma maneira bem elegante foi assim definida a política, pelo menos a política que nos tem calhado em sorte. Outra, bem próxima de nós, a que se mostra passando a fronteira, é caracterizada umas páginas adiante (52 e 53), onde a certa altura se pode ler, por exemplo, que «a manipulação, a mentira e a falta de comunicação autêntica em duplo sentido e em todas as direcções é muito rentável para os políticos que nunca fizeram nada na vida». Lá como cá…