Cinco anos
Com esta edição da «Pessoal» – o número 60 – completam-se cinco anos do projecto. Ou melhor, desta nova fase do projecto da revista, que teve os seus primeiros números na década de 60 do século passado, ainda eu não era nascido. Há uma canção, que já não é muito lembrada, que fala de 10 anos ser muito tempo. É realmente muito tempo, mas de cinco anos pode dizer-se a mesma coisa. Ao longo deste cinco anos da nova «Pessoal», desde uma capa do Verão de 2002 com Sousa Cintra e encher um copo de cerveja, muitas coisas passaram pela equipa da revista, pela equipa em conjunto, ou por cada um dos seus elementos. Podia falar de tantas coisas, de tantos episódios, mas recordo um logo do início, um episódio que mostra como tantas vezes é o acaso que faz com que se concretize aquilo que queremos. Foi na edição número dois…
Nessa edição, havia um ‘dossier’ sobre o ensino em Portugal. Queríamos fazer uma entrevista longa com um ministro, o do Ensino Superior, mas por mais contactos que tentássemos não estava a ser possível. Um dia, com o fecho da edição a aproximar-se, apareceu na redacção um mecânico. Ia entregar um carro a uma das pessoas. Não sei como, percebeu que um de nós, que estava ao telefone, tentava conseguir a entrevista com o ministro do Ensino Superior, mas sem sucesso. Então, chegou-se ao pé de mim e perguntou-me: «Querem entrevistar o sô m’nistro?» Respondi-lhe que sim, mas que já não acreditava que fosse possível a tempo da edição que estávamos a preparar. O mecânico parecia tranquilo, e nem com o meu pessimismo se alterou. Ficou em silêncio por uns instantes; dava a ideia de que estava a pensar… Até que me disse que o ministro que queríamos entrevistar morava num prédio junto do qual ele tinha a oficina. E que fazia lá desde havia muito tempo a revisão ao carro pessoal. «Eu consigo-lhe isso!», acabou por atirar-me, com ar decidido. «Dê-me lá o seu número de telemóvel!...»
O tempo passou. E de entrevista com o ministro, nada. Continuámos a tentar, mas nada. Até me esqueci do mecânico. Mas um dia de manhã, logo bem cedo, ainda estava em casa, tocou o telemóvel. Um homem, uma voz que não reconheci... Nem tive tempo de dizer «bom dia», apenas «estou», ou «sim», já nem me lembro bem. O homem disse o nome, fala fulano tal, e eu não consegui ver quem poderia ser. Fiz que não percebi o nome, e ele voltou a falar: «É o mecânico!»
Fez-se luz. Lembrei-me… O mecânico da oficina junto ao prédio do ministro. O mecânico, a falar todo muito sério: «Estou a telefonar para dizer que a entrevista com o sô m’nistro ficou marcada para amanhã às quatro da tarde! Só precisa de ligar à secretária para confirmar que sempre vão!» Uns dias depois, saía a «Pessoal» com ministro na capa.